segunda-feira, 27 de julho de 2015

Assaltos com facas viram rotina

Na contramão da rigidez no controle das armas de fogo no Brasil, quando a partir de 2003 foi instituída a Campanha do Desarmamento no País, o uso de armas brancas para assaltos tem disparado nacionalmente. A utilização de facas ou facões em abordagens criminosas vem se avolumando em todo território brasileiro. Somente em Pernambuco houve um crescimento de 197,2%. No primeiro semestre de 2014, foram registrados 37 casos de Crimes Violentos contra o Patrimônio, os quais englobam roubos a qualquer tipo de bem. No mesmo período deste ano, o saldo foi de 110 ocorrências, segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS). Durante visitas a lugares como a praça da Independência e o Terminal do Cais de Santa Rita, ambos no Centro do Recife, foi possível identificar o medo no olhar da população. Os relatos são fáceis de serem encontrados. Até mesmo os usuários de transporte coletivo são alvos dessas investidas.
Para a pesquisadora na área de segurança pública e professora do mestrado em Direitos Humanos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Maria de Barros, a situação é uma tendência nacional. “Esse fenômeno começou recentemente no Rio de Janeiro. A arma branca aparece como instrumento que vem assumindo o lugar da arma de fogo. É reflexo do desarmamento e da dificuldade que os ladrões de rua têm de encontrar uma arma de fogo”, explicou a especialista.
 

Crimes cometidos com arma branca - alguns de repercussão nacional, como o do médico Jaime Gold, assassinado na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, no mês de maio - são constantes em outras cidades do Brasil. Segundo estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) carioca, de janeiro a abril, 10% dos latrocínios (roubo seguido de morte) registrados no estado foram praticados com facas e objetos similares. O governador Luiz Fernando Pezão, inclusive, sancionou, no mês passado, lei que proíbe o porte. Em São Paulo, a Câmara Municipal analisa projeto semelhante.

No Recife, o problema tira o sono de profissionais do comércio e preocupa a população. “Eles usam facões que mais se parecem uma espada”, denunciou uma comerciante do Cais de Santa Rita, Centro da Cidade, que não quis ser identificada. Na avenida Recife, o também comerciante Roberto de Araújo, 48, escapou de uma tentativa de assalto. Para a surpresa dele, a ação criminosa foi protagonizada por uma mulher. “Ela se sentou e pediu uma cerveja. Depois foi usar o banheiro. Quando fiquei de pé, do lado de fora, colocou a faca na minha barriga e depois no meu pescoço. Sorte que não aconteceu nada”, lembrou o caso que ocorreu no último dia 16.
Fácil aquisição, ocultação e simples para se livrar. Esses são os motivos dados pelo comandante do 16º Batalhão de Polícia (BPM), que atua na área Central, o tenente-coronel Alexandre Cruz. “O Centro do Recife é uma área democrática. Eles se misturam com facilidade. A primeira coisa que dificulta nossa identificação é que o tipo de armamento não tem legislação, como a arma de fogo. Primeiro precisa praticar o crime e depois ser recolhido. Ficamos em desvantagem e a sociedade também. No mês passado tivemos 76 recolhimentos e cerca de 25 a 30 foram pessoas que utilizaram as facas em roubos e furtos. Atuamos, mas ficamos reféns das circunstâncias”, explicou Cruz. Uma pessoa conduzida com uma faca, se não tiver sido em situação delituosa, responde apenas a um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).

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